Precisamos Falar Sobre o Kevin


Precisamos Falar Sobre o Kevin/We Need to Talk About Kevin



Desde o primeiro sopro de vida, Kevin Khatchadourian demonstra uma insigne e atípica personalidade. Eva, a sua dedicada mãe, não conseguia calar nem abrandar seu intransigente choro quando bebê, e sequer o insuportável barulho de uma britadeira é bastante para dissipar a incômoda convivência. Kevin também não apresentava a disposição esperada de um bebê da sua idade nas brincadeiras com a mãe, hesitando chamá-la de mamãe e o fazendo debochadamente em raras ocasiões. Ultimamente, ele se afeiçoaria ao pai, Franklin, não honestamente, mas para provocar ciúmes e mágoas e confrontar Eva. Era a materialização do complexo de Édipo, na sua forma mais psicótica e turbulenta, uma punição diariamente imposta à mãe por tê-lo concebido. Um inferno realçado no comportamento insidioso e maquiavélico do personagem-título de Precisamos falar sobre o Kevin e na predominância dos insistentes tons rubros perfeitamente adequados na trágica trajetória de uma mãe que descobre o sadismo e monstruosidade do produto do seu ventre.
Ezra Muller (que encarna o Kevin adolescente) brilha extraordinariamente com uma atuação contida, como pede o tom do texto original e dá um show de interpretação. John C. Reilly prova ser a escolha perfeita para viver o permissivo pai de Kevin.
A diretora cria imagens - conjugadas a uma trilha sonora, onde temos a música de Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead - que transitam entre o lúdico e o grotesco. A primeira cena é o melhor exemplo disso. Na abertura do filme, Eva está coberta de um material vermelho e viscoso. Poderia muito bem ser o sangue de inocentes - mas é simplesmente uma Tomatina, a festa na Espanha onde as pessoas se divertem jogando tomates umas nas outras (a personagem de Tilda é autora de guias de viagem). O filme torna-se intrigante por não opinar sobre quem é o mocinho e o vilão, por mais que o menino-título faça questão de, ao final, impor-se como o bandido. Apesar disso, nada inocenta a mãe, pelo contrário, a origem de seu próprio nome sugestiona alguma culpa. Talvez Kevin seja vítima da própria insanidade dela, não tão aflorada com a dele, ou resultado de uma rejeição, o que não a torna vilã da história. Enfim, o único crime é o cometido ao final, mas, sem julgamentos, o filme expõe a estrutura familiar e a relação patológica que levou àquela atitude de Kevin. Este não é um filme fácil de se ver. E até pode gerar um sentimento de culpa. As interpretações, a direção, a história são tão boas que, eventualmente, alguém pode se sentir mal por conta do prazer cinematográfico que tudo isso gera, em contrapartida ao tema espinhoso. Por outro lado, a discussão e implicações que levanta fazem pensar que ainda vamos falar sobre o "Kevin" por muito tempo. Ou, pelo menos, deveríamos. ABSOLUTAMENTE DEVASTADOR E OBRIGATÓRIO!!

Precisamos falar sobre o Kevin (We need to talk about Kevin, Inglaterra/Estados Unidos, 2011). Direção: Lynne Ramsay.
Roteiro: Lynne Ramsay e Rory Kinnear baseado no livro de Lionel Shriver.
Elenco: Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller, Jasper Newell, Ashely Gerasimovich, Siobhan Fallon, Alex Manette, Kenneth Franklin.
Duração: 112 minutos.













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